Quase passarinho

Só consigo pensar que tem libélula que pensa que é passarinho. Rasantes, verdes e marrons coloridos no ar. Piruetinhas. São feias, mas olhando com atenção têm algo assim de ser passarinho sendo libélula que chama a atenção. São só libélulas, mas também voam e vão céu acima, céu abaixo. O céu não é palpável, não pra nós. Mesmo assim, pras libélulas, é onde elas moram. O céu não é nada, mas é lá que elas ficam. Quase passarinho.

Tênis de academia

Minhas amigas não cansam de dizer que eu preciso gostar de alguém. Eu tento, juro que tento demais, demais — mas não gosto.  Algumas vezes o problema é o tênis de academia que insiste em parecer dois números maior que o pé, noutras é o perfume que não combina com a cara e nem com o cheirinho da pessoa mesmo. Daí quando vejo o tênis de academia que na minha opinião não deveria sair da academia lembro de você com todos aqueles tênis que são tão você e podem ir pro shopping, balada, teatro, cinema, boteco. O mesmo com o perfume: cada cheiro diferente e não combinado com a pessoa só me faz querer seu cheiro de novo aqui, porque o resultado final do perfume vai muito também do quanto a pessoa contribui pro cheirinho ser especial, como todo mundo sabe desde sempre.

O falso esperto

O falso esperto se acha esperto porque sabe a diferença, sei lá, entre seção, sessão e cessão.

Papiloscopista, cosmologia, paquiderme, arcabouço, mesóclise.

O falso esperto se acha mais esperto que os outros porque ele está, oh!, acima de tudo.

Tanatologia, principiologia, endometriose, liliputiano, cauliforme.

O falso esperto fica feliz com qualquer passo em falso do outro, mesmo que falso.

Pacta sunt servanda, calipígio, exegese.

O falso esperto torce por isso – ansiosamente.