Ah, só para não espalharem por aí que nesse blog nada foi dito sobre a Copa…
Sábado, 16 horas: início do jogo Brasil X França, que valia uma vaga para semifinal.
Resultado: um time ordinário perdendo para um time medíocre. Uma equipe acrítica, apática e amorfa.
E não me venham falar que a França jogou bem apenas para aliviar o lado do Brasil.
Outras considerações:
I. Pouquíssimas pessoas odiavam com tanto afinco o Parreira e um punhado acreditava que o Brasil se daria melhor com o Felipão. Bastou uma derrota para os especialistas futebolísticos saírem por aí derramando fel.
Moral da história: É fácil ser esperto depois.
II. Alguém já ouviu algum jogador dizer que fazia parte de um tal “quadrado mágico”?
E o Ronaldo intitular-se Fenômeno, alguém já viu?
Moral da história: Foi tudo uma criação da imprensa.
III. Não achei tão ruim o Brasil ter deixado o Mundial. Existem coisas mais importantes a nossa volta que afetam diretamente as nossas vidas.
Agora, vamos ao que interessa:
Semana passada comecei a ler o livro Abusado: O Dono do Morro Dona Marta, do jornalista Caco Barcellos.
Ainda não terminei de ler – são mais de 550 páginas –, mas o que eu já li foi mais do que suficiente para me deixar com vergonha. Vergonha do que? Simples… vergonha da minha cama macia e cheirosa. Vergonha da minha comida sempre fresquinha. Vergonha da minha casa espaçosa, da minha faculdade que custa mais de dois salários mínimos. E vergonha do meu comportamento, muitas vezes, também acrítico, apático e amorfo.
Ao longo da leitura, página após página, foi me dando um nó na garganta, uma vontade de chorar mesmo. Pois é, a garota classe média teve pena. Logo eu, que odeio esse sentimento. Imaginei crianças de dez, onze anos empunhando suas armas e as exibindo como troféus, mais uma prova de mostrar para o mundo que elas existem: “Ei, olha o que eu posso fazer com vocês!”. Essas crianças seguem, dia após dia, o lema carpe diem, hoje tão banalizado.
A impressão que eu tive, até agora, é a de que todo policial brasileiro é corrupto, coisa que eu sei não ser verdade. Eu quero, eu preciso acreditar que esse país tem uma solução, que as nossas crianças nas ruas são realmente nossas crianças nas ruas, e não só do vizinho. Preciso acreditar que após quinze anos de criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, as coisas mudaram para essas elas, mas sei que muitas vezes são meras cidadãs de papel.
O que me conforta, mas só um pouco, é o fato de as eleições estarem chegando. É hora de nós mostrarmos que queremos mais do que uma felicidade que vem a cada quatro anos. Eu gosto de futebol, porém acho também que nossos políticos gostam demais dessa política pão e circo. Mas quem sou eu para dizer aos outros o que fazerem?
No fim das contas, falar é fácil.