Preciso de mais:
– chá
– mel
– hortelã
– Dipirona
– poejo
– mimo
– e canecas
Preciso de mais:
– chá
– mel
– hortelã
– Dipirona
– poejo
– mimo
– e canecas
Quem dera conseguisse ter a objetividade de dizer assim “hoje o dia foi quente”.
Ao contrário.
Digo que o dia foi quente mas que aqui dentro fez inverno glacial porque ainda não cruzei com seu olhar, que todas as estações do ano pareciam a cidade de São Paulo num dia, que a confusão era tão grande que pra dizer que caiu água do céu não bastaria dizer que geou que chuviscou que garuou que caiu um pé d’água daqueles. Era preciso inventar palavras novas, termos que inaugurassem uma nova categoria de emoções, de quereres, de vontades.
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“Só o que sinto explica o que faço” (Helena Kolody)
* * *
Quem dera conseguisse ser objetiva ao ponto de dizer que apenas quero como nunca quis.
Ao contrário.
Digo que ao cruzar com seu olhar é preciso inventar um novo sol que dê conta de tanta luz, que explique cada estrelinha que surge no céu mesmo durante o dia, que então a garoa é fina mas não tem esse nome, é agora um tipo de chuva feliz, que pode fazer um inverno glacial que eu não sinto frio, mesmo com geada ou chuvisco ou garoa ou pé d’água daqueles.
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Amarelinha, barra-manteiga, menino pega menina, polícia e ladrão, elefantinho colorido, boca de forno, mestre mandou, estátua, batata-quente, corre cotia, passa anel, telefone sem fio, vaca amarela.
Eu sempre perdia na vaca amarela.
Uma andorinha sozinha não faz verão
ou
Tudo tem sua hora
ou
Toma um chá de camomila que passa
Hoje ela reclama tá calor tá frio tá calor tá frio. Não sugere leva um casaco, filha, que vai esfriar.
Sei mirar as fases da lua e diferenciar a minguante da crescente da nova da cheia. Sei que aquele cair da tarde que colore o céu num acrilic on canvas tem o divertido nome de lusco-fusco. Sei que “calipígio” significa belas nádegas, que açúcar não torna o molho de tomate menos ácido (problema esse que pode ser sanado com uma pontinha de bicarbonato de sódio), que de uma estação do metrô à outra o tempo conta, certinho, dois minutos. Sei que contornar com lápis branco a parte interna dos olhos realça o olhar, que pra tirar esmalte vermelho sem manchar basta besuntar a unha com óleo secante antes de limpar com o removedor, que a Nara Leão, com 15 anos, namorou o Ronaldo Bôscoli, que tinha 28. Sei que Times 12 equivale à Arial 11, que cachaça não é a mesma coisa que aguardente, que pra fotografar paisagens a lente mais apropriada é a grande angular. Sei que a Clarice Lispector uma vez quase incendiou o próprio apartamento com um cigarro, que ninguém é doutor pelo simples fato de ser médico ou advogado, que papier mâché é a mistura de papel picado, água, gesso e cola.
Mas tem horas que esqueço disso tudo e só sei de um olhar que transmuda do castanho para um brilho de alegria.
“Pra que é que eu existo mesmo?”
Sol, chuva, calor, garoa fina, 12 graus no relógio da Paulista, calor, sol, 25 graus em Oz, chuva torrencial, garoa fina de novo, mais sol, mais chuva, mais garoa fina.
Pô, São Pedro!
Nada como uma escapadinha no feriado para botar as ideias, os sentimentos, as dúvidas, as emoções, os amores no lugar.
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