Tá rindo de quê, hein, hein?

“Nossa, o que você tá fazendo aqui?”

“Perdi a aula, demorei duas horas pra chegar…”

“Caramba…”

“É, acho que vou começar a sair de Osasco lá pelas 6 agora”

“Pfff, também… olha de onde você vem!”

“…”

Sem graça.

Vide bula

Instruções de como usar seu par de lentes de contato:

i. Lave muito bem as mãos antes de manuseá-las;

ii. Faça a higiene com o soro diariamente, a fim de evitar a formação de proteínas;

iii. Não fique com elas por mais de 14 horas diárias;

iv. Em caso de choro, segure firme. Caso contrário, elas insistirão em desgrudar e, provavelmente, irão pular do seu olho.

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

“Na verdade eu fico pouco tempo aqui pela quantidade de coisa que precisa ser feita…”

“Que horas você entra?”

“Eu entro às 14 e saio às 18…”

“Já que você tem que fazer tanta coisa, porque não fica até as 20?”

“Porque isso seria trabalhar cinqüenta por cento a mais do que está previsto no meu contrato de estágio.”

E eu sempre achei que nunca seria capaz de responder isso.

Coração sitiado

Quando as pessoas passam a existir de fato dentro de nós? Porque a gente sabe que uma coisa é você conhecer um sujeito, outra, beeeem diferente, é saber que esse alguém ocupa um espaço especial em você. Quando será que se dá aquele instante – um segundo talvez, um olhar, um sorriso, sabe-se Deus lá o que – no qual a pessoa te cativa e, sem pedir licença, junta suas tralhas e se hospeda em algum cantinho do seu ser, seja na alma, no coração?

Tenho uma amiga que acampou definitivamente em mim enquanto fazíamos um trabalho de História da Arte. De repente, percebi que aquela pessoa já era parte de mim. Ela havia se tornado não só especial, mas essencial na minha vida.

Tem também aquela coisa tipo final de oitava série. Quando a gente tá ali naquele oba oba, escrevendo o nome nas camisetas, entre uma promessa falaciosa de ‘sim-vamos-marcar-para-nos-encontrarmos’ e uma canetinha hidrocor. Em momentos como esse eu percebo que aqueles nomes no tecido branco escondem uma pessoa de carne e osso e que talvez eu não tenha convidado para uma conversa na sala de visitas aqui dentro de mim, nem que tivesse sido só de passagem.

Há também aquelas pessoas que saem da sua vida facinho, facinho, e você, que achava que elas iriam fazer uma diferença enooorme, percebe que, sim, você vai conseguir viver sem elas – quiçá melhor. Na verdade, elas não moravam em você, estavam só pagando aluguel por uma espécie de quartinho dos fundos no seu coração.

Na maior parte das vezes, as pessoas passam a existir dentro de mim quando eu digo ‘adeus’. A saudade bate nessa hora, assim que a despedida é concretizada. E aquela pessoa existe tanto tanto e está tão enraizada já, hospedada com mala e cuia, que uma dor começa a se pronunciar.

“A solidão é fera, a solidão devora… lalalá”

Tem uma galera aí que anda pagando até 300 reais por uma hora de amizade. Os personal friends oferecem de tudo por uma boa recompensa (menos sexo, é claro… tá pensando o quê?).

Enquanto isso, tem gente que procura as salas dos Introvertidos Anônimos, o I.A., para encontrar soluções para a timidez.

Quer saber mais? Leia aqui.

A revista é essa.

Ao embalo de… #2

tranco-me num quarto minguante
alegre mas com lágrimas nos olhos
dou-lhe de presente um piolho
e a memória de meu corpo ausente
há festa, minha festa no escuro
nenhuma fresta de luz no muro
lá fora é meia noite
por dentro sou noite inteira
aplico-me um belo açoite
estou nua, estou cheia (é lua)
nenhuma visão de presente
profeta do passado, eu juro
tranco-me num quarto crescente
proveta do futuro e duro
jogo o terço do quarto no quintal
faço dessa alma um quartel
saio fora do real
e rasgo seus escudos de papel
pois é chegada a hora de pular da alcova
da cova e sapatear no campo minado
munido de vida nova
lá fora é meia noite
por dentro sou noite inteira
aplico-me um belo açoite
estou nua, estou cheia

(Alunissado, de KAH-HUM-KAH)