Tudo é divino, tudo é maravilhoso

Tenho para mim três anos da minha vida que foram especialmente bons. Inesquecíveis mesmo. Esse ano de 2007 é um deles. Ano duro, diga-se de passagem. Mas incrivelmente, deliciosamente bom.

Em 6 de janeiro, escrevi aqui no Onomatopéia que meu único desejo era tornar-me protagonista de minha própria vida. Consegui. Custou caro, mas consegui. É uma sensação tão boa.

Entro em 2008 certa de que estou mais sozinha do que estive ao longo de 2007. A felicidade, o chão seguro, os amigos, tudo isso compensa.

Giovani

O Giovani se desvencilhou da mãe e veio falar comigo. A boquinha estava cheia de arroz e feijão preto.

“Tia”, ele começou, “o ônibus depois sobe, né?”. Foi uma pergunta inocente, mas curiosa, típica para os seus quatro ou cinco anos de idade.

A mãe então intimou o garoto. Enfiou a colher de plástico na quentinha aberta sobre seu colo e tascou a comida na boca da criança. Mastigou impaciente. Veio falar comigo de novo. Nós estávamos sentados na última fileira de bancos do ônibus, aquele lugar que está mais sujeito aos acidentes topográficos de São Paulo. Resultado: a cada anúncio de lombada, o almoço do menino diminuía um pouco. Grãos de arroz e de feijão jaziam no chão úmido do ônibus.

No trajeto que liga a Igreja Imaculda Conceição até o Pão de Açúcar da Brigadeiro Luís Antônio, Giovani almoçou e, de brinde, ganhou um gole do guaraná Schin que a mãe, contrariada, lhe ofereceu. Deram o sinal de parada. Exasperada, a mulher gritou com a criança, sob a garoa fina da hora do almoço.

“Vai, muleque, se enfia no mercado que tá chovendo!”

E Giovani, nos passos ligeiros de suas perninhas curtas, subtraiu-se no meio da multidão de guarda-chuvas.

No tapete vermelho

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Não é piada, mas meu blog foi indicado para selo oficial “Eu tenho um blog de Elite”. Juro, não é piada, não. Olha lá, foi a Amelie quem indicou. “Ah, mas indicação de amigo não vale”, alguns dirão. Se vale ou não vale, a questão é que eu preciso indicar outros cinco blogs que, para mim, também merecem o selo. Hmmm, difícil, hein? Bom, aqui vai a indicação (não de cinco, mas de três):

Rango na madrugada – super gostoso de ler, o blog da bailarina e arte-educadora Andréa é a minha primeira indicação.

Me exorcisa – doses cavalares de Beatles e um bocadinho de Mariana.

Amelie Bonfant – não só por causa da presença virtual dela, mas porque a presença real fez meu ano meu bem mais, digamos, tragável.

Reflexos

No reflexo da janela do ônibus, toda noite parece noite de Natal. As luzes da cidade refletem como pisca-pisca ligado e intermitente. Quando chove, então, é mais Natal ainda. Os respingos da chuva formam cada um pontinhos furta-cor. As luzes pintam os vidros com borrões de cores mal definidas, tremeluzindo a cada parada e partida e mais uma nova partida. Na janela do ônibus, ao anoitecer, é Natal o ano todo.

Indefinidas, as pessoas lá do lado de fora até parecem felizes, desgarradas de sua identidade, formando apenas – mais uma – massa. Esboços de sorrisos sob guarda-chuvas coloridos – a rua deveria ter mais deles.

Quando vi você ontem, de dentro do ônibus, a luz te emoldurou. Você parecia um presente, com laço e papel pardo de embrulho. Ainda não é Natal. Papai Noel não existe.

Recebi, mas não vou passar

Eis a brincadeira:

“I. Pegar um livro próximo
II. Abrir na página 161
III. Procurar a 5ª frase completa
IV. Postar essa frase em seu blog
V. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro
VI. Repassar para outros 5 blogs”

Dando continuidade à corrente passada por uma de minhas amigas beatlemaníacas, aqui vai a primeira frase da página 161 do livro que estava mais próximo de mim:

“One minute you were right behind us, the next moment, you were back at the bottom of the stairs again.”
(Dita por Rony, em Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, de J. K. Rowling)