Mês: março 2010

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Finesse

“Alô, Marília, eu sou da Manager Online e vi que você iniciou um cadastro em nosso site…”

“Sim, iniciei”

“Estou vendo aqui que você é recém-formada em Jornalismo”

“Sim…”

“E que você está buscando por uma colocação na área”

“Isso”

“Tá, então… você pode estar passando o número da sua conta corrente, por favor?”

“Não, na verdade eu não terminei o cadastro porque sei de outros sites que oferecem o mesmo tipo de serviço e sem ônus”

“Tá, mas você pode estar me dando o número da sua conta, por favor?”

“Não, eu não quero”

“Marília, acho que você não entendeu”

“Eu não quero continuar o cadastro”

“Você não entendeu, nós estamos te oferecendo sete dias de acesso gratuito…”

“Quem não entendeu foi você. Eu sei o que tá escrito no site, eu li. Eu não quero fazer cadastro nenh…”

Tu… tu… tu… tu…

Estressada.

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Furtivamente

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.

C. Lispector, no conto Felicidade Clandestina


Acordei sem querer pensar muito, com medo de esgotar toda essa alegriazinha tímida.

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Mudando

Bolacha é biscoito. Guarda-sol é barraca. Na praia, a bebida mais pedida é o Matte – com biscoito Globo, claro. O metrô é de superfície. No teatro, muita gente de chinelo (assim como na pizzaria, no cinema, no shopping). Lá não tem as marginais Pinheiros e Tietê, mas sim as linhas Amarela e Vermelha. Um pedágio de 4 reais separa a Zona Oeste da Zona Norte. Geral vai pra night, quase sempre pro funk (até as cocotas de Copa). Grandes cronistas vieram de lá, assim como grandes sambistas também. Noel Rosa, Cartola, Olavo Bilac, João do Rio. A banca de jornal tem Extra, O Globo, O Dia.

É pra lá que eu vou.

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